Categorizamos, em nossa pesquisa, a tipologia de variação linguística, conforme o fazem Ilari e Basso (2014, p. 152-196) em variação: diacrônica (histórica), diatópica (regional), diastrática (social), diamésica (conforme o suporte de transmissão). E, devido à frequência em atividades de livros didáticos, acrescentamos ainda a variação diafásica (nível de formalidade ou informalidade), de acordo com o exposto por Bagno (2007, p. 45).

 

  1. Variação diacrônica

A variação diacrônica também é conhecida como variação histórica e corresponde a variação que pode ser verificada no decorrer do tempo, podendo, muitas vezes ser percebida ao comparar gerações ou épocas diferentes. Portanto, esse tipo de variação trata das mudanças ocorridas na língua com o passar do tempo.

Um exemplo clássico desse tipo de variação é que no português arcaico havia o pronome de tratamento vossa mercê e devido a variações, inicialmente sociais, passou a vosmecê até chegar ao termo atual você.  Insta salientar que a variação diacrônica não é brusca, havendo, muitas vezes um período de transição entre um estado e outro até que se consagre a nova forma linguística.

 

  1. Variação diatópica:

A variação diatópica corresponde às diferenças de uma mesma língua observada na dimensão do espaço geográfico.  Muitas vezes é chamada de variação regional, que pode ocorrer em diferentes níveis. Esse tipo de variação nos mostra que diferentes regiões têm diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo diferentes estruturas linguísticas.

Nesse sentido, podemos observar as variações lexicais frequentes e que identificam diversas regiões do Brasil, por exemplo, aipim – uso linguístico do Nordeste brasileiro para mandioca. Já as variantes macaxeira e mandioca identificam regiões centrais e ao sul do país, como asseveram Ilari e Basso (2014). A variação diatópica ainda inclui os diferentes sotaques e dialetos (dialeto caipira, dialeto gaúcho, dialeto baiano, dialeto nordestino, etc.).

 

  1. Variação diastrática

A variação diastrática corresponde às variações produzidas por falantes de diferentes classes sociais. Ou seja, ocorrem conforme diferentes hábitos e culturas de diferentes grupos sociais. Esse tipo de variação ocorre porque diferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, modos de atuação e sistemas de comunicação.

A exemplo, temos gírias própria de um grupo com interesse comum, como entre os surfistas (deu onda, tomou um caldo, etc.) ou jargões profissionais como de policiais (vamos na rota do meliante).  Ilari e Basso (2014) destacam, dentro dessa estratificação, o português substandard, um português falado por informantes menos escolarizados. Esses autores evidenciam que as construções linguísticas substandard são uma variedade da língua com gramática própria, que possui comunicação eficaz, mas que está distante do idealizado pela chamada norma- padrão.

 

  1. Variação diamésica

A variação diamésica é observada entre a modalidade oral e a modalidade escrita ou entre os gêneros textuais. Dessa forma, um texto escrito possui regras que possibilitam apaga-lo e reescrevê-lo quantas vezes forem necessárias, enquanto, na oralidade, as regras são bem diferentes. O que ocorre na fala são reformulações a partir do que foi dito.

Ilari e Basso (2014) associam esse tipo de variação ao uso de diferentes meios de comunicação, compreendendo as profundas diferenças entre a língua falada e a língua escrita na produção dos textos que buscam representar a fala do interlocutor, como nas entrevistas dos jornais impressos. Como exemplo, podemos citar as conversar via whatsapp (aplicativo de mensagem instantânea via internet) e a bula de um medicamento. Devemos estar atentos, também, ao engano de afirmar que a língua falada é sempre informal, como podemos comprovar citando: uma entrevista de emprego, um seminário, uma palestra, uma arguição oral ou uma reunião de negócios.

  1. Variação diafásica

A variação diafásica, denominada também de variação estilística, corresponde à forma de registro nos diferentes usos da língua conforme a situação de comunicação formalidade ou informalidade. Nesse sentido, podemos notar o monitoramento linguístico, relacionado ao nível de formalidade, polarizado “do grau mínimo ao grau máximo” (Bagno, 2007, p. 45). Essa contraposição, de acordo com Bagno (2007), pode ser observada em diferentes situações. Assim, o autor esclarece que um falante, independentemente da escolaridade, varia o modo de falar de forma mais ou menos consciente, pois, quando exposto a uma situação formal, o registro tende a variar para o grau máximo de monitoramento, sendo um registro também formal, mas esse mesmo falante, em situação informal, deixa a fala menos tensa e varia para um grau menor de monitoramento, tendo um registro mais voltado ao informal.

Como exemplo desse tipo de variação vamos a Bagno (2007, p. 110) que pesquisou esse fenômeno por meio de textos retirados da internet. Em sites menos formais, o autor encontrou estruturas como “hoje aconteceu os treinamentos oficiais”, “a classe média acabou, só sobrou os concursados”.

Esses exemplos mostram a regra de concordância entre verbo e sujeito de forma diferente da norma-padrão, o que ocorre em diversos dialetos e, como na internet os textos são instantâneos, muitos não passam por monitoramento ou correção. Essa situação se mostrou diferente nos exemplos que Bagno (2007, p. 111) retirou de textos com usos mais monitorados, como “acabaram os roubos de automóveis”, “às mulheres restavam os trabalhos domésticos”.

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